Sabe-se que cada casa de Umbanda, Candomblé ou de religião de matriz africana tem uma vertente própria ou segue uma nação, e, pelo fato dessas culturas serem tradicionalmente orais, não há registros escritos que indiquem a origem das características e histórias dos orixás. Esse texto é apenas um apanhado de informações gerais, não tendo a intenção de se aprofundar em nenhum itan (lenda) e muito menos desacreditar nenhuma crença ou prática diversa.
Iansã, também conhecida como Oyá, é um orixá que tem o domínio do vento, da tempestade, dos furacões e ciclones, do trovão, do raio e do fogo. É uma mulher guerreira de personalidade autoritária e combativa.
Os elementos da natureza ligados a ela são o ar (normalmente em movimento, devido ao seu domínio das tempestades e vendavais) e o fogo. É conhecida por sua força e destreza, as cores usadas para representá-la costumam ser vermelho ou amarelo, o dia da semana é quarta-feira e sua comida é o acarajé. Em uma mão, carrega um tipo de espada denominada alfange e em outra mão o eruexim (uma ferramenta semelhante a um espanador, com cabo de madeira, detalhes em búzios e crina de cavalo), uma ferramenta utilizada para proteção contra os eguns.
A historiadora e antropóloga Débora Souza escreve: “‘Iansã tem uma energia diferente, é mais agitada, já chega mostrando para o que veio’ e ‘as filhas de Iansã são mulheres fortes’ – são frases que sintetizam características atribuídas à orixá (também conhecida como Oiá) e suas filhas.” (SOUZA, Debora. 2023, p. 224)
Percebemos, então, que Oiá é um orixá de personalidade forte. A mestra Laila Rosa a descreve como tendo “[…] um perfil de mulher independente, guerreira, corajosa, sensual e bonita, traços que também são atribuídos às suas filhas e filhos. Este orixá carrega consigo um forte senso de justiça além de uma relação com a morte (o universo dos eguns). […] seus ‘defeitos’ também são reconhecidos como particulares, como o de ser intempestiva.” (ROSA, 2005, p. 147)
Podemos associar o domínio dos trovões e o senso de justiça a Xangô, rei de Oió e marido de Iansã. Algumas fontes dizem que ele foi seu grande amor, e, por isso, dizem que “não se pode fazer nada para Iansã que não se faça para Xangô” (SOUZA, 2023, p. 224). Conta-se também que “Oya era mulher de Sango (…) foi casada antes com Ogum, mas este era tão malvado que ela fugiu para junto de Sango, desposou-o e ficou com ele.” (ROSA, Laila. 2005, p. 141)
Antes de serem um casal, entretanto, Oiá conseguiu diversos conhecimentos e atributos com seus amantes. Foi mulher de Ogum, com quem teve nove filhos e aprendeu a manusear a espada que ele lhe deu. Essa é a ferramenta com a qual Iansã corta todo o mal. Conta-se que “a partir do momento que Oiá soprou o fogo da forja de Ogum para ajudá-lo, pois este precisava fabricar mais armas para a guerra em que Oxaguiã lutava, Oiá passa a dominar os ventos e as tempestades.” (ROSA, Laila. 2005, p. 142)
Com Exu, aprendeu tudo sobre fogo e magia. Com Oxossi, aprendeu como caçar, a tirar a pele do búfalo e a se transformar nele, a partir da magia aprendida com Exu. O simbolismo do búfalo não é em vão, pois “[…] esta narrativa é destacada simbolizando sua transformação de mulher ‘pra bicho’ quando contrariada.” (ROSA, 2005, p. 143) Em inúmeras lendas percebe-se que Iansã não é uma mulher com a qual alguém gostaria de brigar. Aprendeu a pescar com Logun Edé e, com Obaluaê, ganhou o reino dos mortos e passou a ser condutora dos espíritos.
Devido ao sincretismo, Iansã é relacionada com Santa Bárbara, a santa protetora contra as tempestades, raios e trovões, sendo o mesmo dia de comemoração para ambas: 4 de dezembro.
FONTES:
SOUZA, Debora Simões de. Raios e ventos: narrativas mágicas sobre Santa Bárbara e Iansã. Texto retirado do livro “Magia, Encantamentos e Feitiçaria”, dos organizadores Semíramis Corsi Silva, Flávia Regina Marquetti e Pedro Paulo A. Funari. 2023, São Paulo, Cultura Acadêmica Editora.
ROSA, Laila Andresa Cavalcante, 2005, Bahia. Epahei Iansã! Música e resistência na Nação Xambá: uma história de mulheres. Dissertação de mestrado na Universidade Federal da Bahia.