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A história de Maria Mulambo

A história de Maria Mulambo

Quando se fala da história de Maria Mulambo, destaca-se uma específica, embora não sejam citados nomes, datas ou local. Conta-se que Maria Mulambo foi uma bela jovem, delicada e amável, nascida em berço de ouro e que, portanto, despertou o interesse da família real, fazendo com que fosse pedida em casamento aos 15 anos com o intuito de gerar herdeiros. Com isso, Maria e seu esposo, de 41 anos, viveram um casamento sem amor, fundado somente com esse objetivo.

O tempo passava e Maria não conseguia engravidar, o que gerava uma tensão no relacionamento e até mesmo perante o povo, pois, nessa época, uma mulher que não conseguia engravidar era vista como uma árvore podre, tida como amaldiçoada. Assim, seu esposo a maltratava constantemente devido a sua suposta infertilidade.

Apesar da vida amarga, ela praticava muita caridade, andando por vilarejos pobres e ajudando pessoas doentes, mais velhas e em situação de miséria. Em uma de suas caminhadas a um vilarejo, conheceu um rapaz apenas dois anos mais velho que ela, viúvo e pai de três filhos, os quais eram cuidados com muito amor e carinho. Ao vê-lo, Maria se encantou. Foi amor à primeira vista de ambas as partes e de forma muito intensa, porém não chegaram a se relacionar devido ao compromisso da moça. 

Com o passar do tempo, o rei morreu e o marido de Maria assumiu o trono, tornando-se rei e ela rainha. Embora houvesse algumas críticas à Maria por ainda não ter concebido um herdeiro à família, o povo a adorava por causa de sua generosidade – chegaram a fazer um tapete belíssimo de flores para que ela pisasse nele. A mulher ficou encantada, mas seu marido não gostou nem um pouco. Ao chegar em casa, trancou-a em um quarto e deu-lhe uma surra, como fazia quando bebia. 

Ainda com essas dificuldades, Maria não deixava de praticar seus atos de caridade e, em um determinado dia, o jovem amado, ao encontrá-la toda machucada, resolveu declarar seu amor e sugeriu que eles fugissem juntos. Ela aceitou e eles planejaram tudo. 

Maria fugiu apenas com a roupa do corpo, deixando toda a riqueza para trás e usando apenas roupas simples e usadas que se assemelhavam a mulambos. O rei mandou procurá-la, mas não encontrou.

Maria vivia muito feliz com seu amado e chegou a conseguir engravidar. A novidade espalhou-se por todo o país e chegou aos ouvidos do rei, que entrou em estado de plena fúria e desespero ao se dar conta de que ele quem era infértil, não a mulher. Sendo assim, tomado pelo ódio e loucura, mandou seus guardas prenderem Maria – que passou a ser chamada de Maria Mulambo, não de forma pejorativa, mas pelo fato de pertencer ao povo. 

O rei mandou que amarrassem duas pedras nos pés de Maria Mulambo e a jogassem no fundo do rio sem que ninguém soubesse. Sete dias após o crime, às margens do rio onde Maria foi morta, começaram a nascer flores que nunca estiveram ali antes. O jovem amado desconfiou e resolveu mergulhar à procura dela. Enfim, ele encontrou o corpo dela, que se encontrava em perfeito estado, como se tivesse voltado à vida. Os mulambos com que Maria foi jogada ao rio desapareceram e ela estava trajada como uma rainha, cheia de jóias. O jovem resgatou seu corpo e conseguiu, então, fazer uma cerimônia digna. O corpo foi velado e, por fim, cremado.

Embora seja uma história bonita, é cercada de misticismo e se assemelha muito a uma lenda. A falta de informações mais exatas, como local, data e nomes põe à prova a veracidade desses relatos. O autor e praticante de Quimbanda Danilo Coppini (2018) escreve o seguinte sobre a pombagira Maria Mulambo:

“A grande maioria das lendas soam à nossa Tradição como relatos infundamentados. […] A grande massa que frequenta os terreiros das religiões afro-brasileiras prefere acreditar nas lendas onde as Pombagiras são espíritos de antigas rainhas ou princesas na Europa do que em vida tenham sido escravas, mulheres batalhadoras, prostitutas, ladras, golpistas, assassinas, dentre outras qualificações. Parece-nos que as pessoas acreditam que se o espírito não tenha sido de alguém importante em vida, não tem condições de despontar no plano astral.” (2018, p. 459)

O autor acredita, então, que Maria Mulambo viveu como mulher escravizada no Brasil Colônia e ganhou esse nome pois usava vestes e trapos como qualquer trabalhador rural e escravizado. Acredita-se, então, em Maria Mulambo como uma expressão da mulher guerreira que suportou terríveis humilhações e agressões, e todos esses símbolos a tornam uma manifestação de luta pela liberdade e esforço.

Fontes

marciafernandes.com.br/site/pomba-gira-maria-mulambo/

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/maria-mulambo-conheca-a-pombagira-que-protege-casais-em-crise,0b097bb5f97e87c5a7303bc12ba9c1a07nomtg4r.html

https://www.wemystic.com.br/pomba-gira-maria-mulambo/

COPPINI, Danilo. QUIMBANDA: O culto da Chama Vermelha e Preta. Via Sestra, 2018.

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