Que o charuto é feito de tabaco a gente já sabia, mas você sabe como é produzido?
O charuto, assim como o cigarro, é feito da folha seca da planta do tabaco (Nicotiana tabacum). Para a produção, o tabaco é cultivado e colhido por agricultores (atividade denominada fumicultura), que posteriormente vendem para empresas fabricantes de charutos, cigarros e fumos em geral.
O Brasil é o maior exportador de tabaco e segundo maior produtor de fumo do mundo, perdendo a primeira posição apenas para a China. Cerca de 97% da produção concentra-se na região sul brasileira, sendo o estado do Rio Grande do Sul o protagonista. Estima-se que há por volta de 190 mil famílias de fumicultores.
Cultivo do tabaco
Observa-se dois lados da moeda na indústria fumageira nacional: a renda gerada é de grande importância, assim como a arrecadação de impostos e a oportunidade de empregos. Além disso, a rentabilidade do cultivo do tabaco acaba tornando-o uma ótima opção para o plantio em pequenas propriedades, tornando os fumicultores totalmente dependentes dessa atividade para sobrevivência.
Entretanto, a fumicultura é nociva ao meio ambiente e prejudica a saúde dos agricultores e da população que consome produtos derivados do tabaco. O cultivo ameaça a biodiversidade, provocando erosão do solo e perdas substanciais e irreversíveis de árvores e outras espécies florestais. Diversos fumicultores apresentam problemas de saúde derivados do uso de agrotóxicos, pesticidas, da nicotina que a pele absorve das folhas e da exposição ao pó do tabaco.
Outro fator em que observamos danos aos agricultores é no âmbito socioeconômico, pois os trabalhadores se sentem presos ao ciclo vicioso de dívida e incapazes de conseguir um preço justo para a venda do produto. Normalmente, a empresa paga um valor baixo pelo tabaco, então os fumicultores intensificam o trabalho a fim de conseguir um pagamento maior. O excesso da oferta do produto no mercado o desvaloriza e a empresa se beneficia com a compra de mais tabaco de qualidade equivalente. Assim, o fumicultor torna-se escravo dessa estratégia de amenizar os efeitos dessa dominação.
Não é possível que o produtor estabeleça um preço justo para o tabaco, pois a empresa mantém uma relação distante propositalmente. Com isso, a exploração é perpetuada devido à baixa participação do fumicultor em ambientes de discussão sobre a situação do trabalho. Os membros da câmara setorial do tabaco, por exemplo, são, em grande maioria, representantes dos interesses das companhias fumageiras e impossibilitam a participação dos fumicultores nos encontros destinados às discussões relacionadas ao setor fumageiro. Desse modo, os produtores são impedidos de reivindicar preços justos e denunciar a exploração.
Produção do charuto
Três tipos de folhas de tabaco são utilizadas como matéria-prima para a confecção do charuto. Para o enchimento, são usadas folhas pequenas ou quebradas. Folhas inteiras são utilizadas para um revestimento interno, chamado de fichário. Essa folha de fichário pode ser imperfeita ou de segunda qualidade, pois a aparência não é importante. Para o revestimento externo, uma folha grande de aparência uniforme e finamente texturizada é utilizada.
As plantas de tabaco levam vários meses para amadurecer nos campos, e as plantas utilizadas para as embalagens externas geralmente ficam à sombra ou são cobertas com um pano a fim de proteger do sol.

As folhas de tabaco colhidas são, então, levadas para o processo de cura. Para esse processo, elas são amarradas em faixas estreitas de madeira penduradas no teto de um celeiro de cura bem ventilado. As folhas verdes e frescas tornam-se marrons ou amareladas secas. Em climas mais secos, ocorre a cura por ar, onde as folhas são apenas suspensas. Outro meio, porém, é a cura por combustão, em que as ripas de madeira são penduradas em um pequeno celeiro aquecido entre 32 e 77 ºC. A temperatura deve ser sempre vigiada para que a secagem não ocorra de forma extremamente rápida. Também pode ocorrer queima de madeira ou serradura no celeiro para auxiliar a secagem das folhas e proporcionar um aroma especial.

Após a curagem, as folhas são classificadas por cor e tamanho. As pequenas e quebradas são usadas para o interior do charuto, as folhas grandes para o fichário (revestimento interno) e as folhas grandes e finas (cultivadas à sombra ou cobertas com pano) são selecionadas para o revestimento externo. As folhas selecionadas são amarradas em feixes e guardadas em grandes barris por um determinado período, podendo levar de seis meses a cinco anos. Durante esse tempo, ocorre uma alteração química chamada de fermentação, em que são desenvolvidos o aroma e o sabor da folha. Os charutos de alta qualidade costumam conter folhas de tabaco com fermentação de um período de dois a cinco anos.
Após a fermentação, as folhas são selecionadas manualmente e levadas para a confecção de charutos.
Fontes:
Laura Silva Peixoto de Castro e Janine Kieling Monteiro Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São leopoldo/RS, Brasil. FUMICULTORES ADVERTEM: A CAUSA DO SEU SOFRIMENTO É A EXPLORAÇÃO NO TRABALHO. Psicologia & Sociedade, 27(1), 87-97.
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